Desde o início de 2024, a Pró-reitoria de Extensão e Cultura (PR3) conta com a direção da professora Ana Santiago, da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Uerj, que busca seguir critérios democráticos para definir as políticas de sua gestão. A PR3 tem o objetivo de contribuir para a formação humanística dos estudantes da Universidade, por meio da disseminação de bens culturais, juntamente com o conhecimento. Também é responsável por estabelecer as diretrizes e normas para o desenvolvimento das atividades de extensão e cultura da instituição, de acordo com a legislação pertinente. Nesta entrevista, a professora fala sobre o processo de reestruturação da Pró-reitoria e as ações intra e extramuros para atendimento das necessidades da população do Estado do Rio de Janeiro. Confira!

Como avalia o trabalho realizado pela PR3 neste início de gestão?

Antes de qualquer coisa, é importante lembrar que estamos no quarto mês de gestão. Acredito que os servidores tenham percebido um comprometimento do gabinete da PR3 em manter um diálogo constante com seus departamentos, o Depext e o Decult. Foi também um tempo de reestruturação e de muita escuta dos diferentes atores que fazem a extensão e a cultura se movimentarem. Esse caminho foi uma escolha partilhada e entendemos que é coerente com uma proposta de base democrática.

Outro fato a ser mencionado é o reconhecimento das pessoas, dos processos de trabalho e do lugar da extensão no cotidiano da Universidade. Há muitos desafios, por isso, para que possamos já neste momento demonstrar o comprometimento com o plano de gestão atual, realizamos esforços significativos em relação ao trabalho da extensão, tais como a finalização da primeira chamada de cadastramento/recadastramento de projetos, com distribuição das bolsas pelos aprovados, cumprindo o calendário estabelecido e o início do processo de revisão de documentos normativos que regulamentam as atividades de extensão (cursos e eventos, programas e projetos, carga horária docente), com vista à implementação de consulta pública, no âmbito da Universidade. Também prestamos apoio administrativo a eventos científicos de relevo, como a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCT) e a 5ª Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Para a cultura, o movimento inicial foi, e ainda é, o de compreender de que forma a comunidade lida com essa dimensão da Universidade. Operacionalmente, estamos em uma fase de reconhecimento e conceituação, para posterior implantação, o que não impediu que avançássemos em ações concretas de cultura, como a inauguração, pela Coordenadoria de Exposições (Coexpa), no dia 14 de março, da exposição “Esqueleto: algo de concreto”, nas galerias Candido Portinari e Gustavo Schnoor, no campus Maracanã. Além disso, a Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart) promoveu, de 12 a 14 de março, o Ânima 2024, no Centro Cultural do campus Maracanã, em que homenageamos a professora Maria Theresinha do Prado Valladares. Também tivemos o trabalho da Divisão de Teatro para a realização da pré-estreia do espetáculo “Sagração”, da Companhia Deborah Colker, e o realinhamento da parceria com a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), de modo a conseguir manter seu processo de residência na Uerj. No dia 25 de abril, às 19h, haverá, inclusive, uma apresentação da OSB Jovem, pelo Projeto Concert Uerj, no Teatro Odylo Costa, filho.

Quais são as principais ações implementadas para atender às necessidades da sociedade fluminense?

Nossa proposta é discutir ações de extensão que envolvam a sociedade, não como “público-alvo” da nossa ação, mas como “público participante” dessa ação-reflexão-ação. Por isso, pretendemos estimular atividades extensionistas junto à população, aos profissionais e aos movimentos sociais, ou seja, desejamos gerar na sociedade fluminense a identificação da Uerj como sua e não como uma universidade distante, em que ela não se reconhece.

Para isso, pretendemos fazer a construção de uma Uerj Sem Muros com maior participação popular, trazendo novamente escolas de ensino fundamental e médio para conhecerem nossas ações, e encontros com os coordenadores de núcleo de extensão, com bastante interação e diálogo, como ocorreu em 27 de fevereiro. Conseguimos coletar informações sobre o trabalho da extensão nas unidades da Uerj, servindo para elaboração de um plano de ação que responda às necessidades específicas de cada unidade, visando a um melhor suporte às ações de extensão da Universidade.

De que forma a PR3 está trabalhando para incentivar a promoção da cultura nos campi regionais?

Para os campi regionais, estamos começando a entender quais são as maneiras lúcidas de incentivo à cultura, fundamentalmente com respeito à produção local e aos artistas do território. Criamos uma nova galeria de arte na Faculdade de Formação de Professores (FFP), em São Gonçalo, e instauramos uma ocupação temporária no Instituto Politécnico (IPRJ), em Nova Friburgo, mas ainda é pouco. Estamos verificando, a partir da identificação do interesse, da demanda local e da viabilidade, os perfis dos campi interessados e a real probabilidade de construção coletiva. Nosso interesse é que lancemos em breve um edital de ocupação que também abarque todos os campi. Por outro lado, é imprescindível que construamos uma política de cultura consistente e que consigamos aumentar nosso quadro de funcionários, para que a expansão para os campi regionais seja de fato, efetiva.

Como a PR3 atua para promover a articulação entre extensão, ensino e pesquisa?

Uma ação imediata foi a realização de reuniões de nossos departamentos com setores da PR1 e PR2, objetivando a construção coletiva da Uerj Sem Muros. Estamos avançando, também, em um planejamento coletivo e coordenado das pró-reitorias. Retomaremos, por exemplo, os debates sobre a inserção curricular da extensão, em conjunto.

Qual é a importância da curricularização da extensão? E os seus principais desafios?

Considerando o preceito do tripé constitucional de que uma universidade se caracteriza pelo ensino, pesquisa e extensão, o processo de inserção curricular vai ao encontro da própria construção do conceito de universidade e visa valorizar uma formação mais completa para o estudante da graduação, permitindo que ele experimente os três pilares da experiência universitária. O maior desafio desse processo é refletir sobre o papel da Universidade hoje e usarmos a oportunidade da inserção curricular para repensar nossos cursos e currículos.

Há previsão do aumento do número de bolsas oferecidas pela PR3?

Precisamos construir uma política de cultura consistente e rever o papel das bolsas de cultura, que são ínfimas. Temos exposto a necessidade do aumento de bolsas para a Reitoria e para a Diretoria de Planejamento e Orçamento (Diplan), demonstrando que há um descompasso entre a demanda de bolsas pelos projetos de extensão e a disponibilidade para atendê-la. Ademais, o processo de inserção curricular da extensão está na iminência de ser implementado em toda a Universidade, o que, possivelmente, implicará um aumento expressivo das ações extensionistas na Uerj. Considerando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, entendemos ser fundamental o aumento das bolsas de extensão, assim como a implementação de uma bolsa pró-extensão para os coordenadores extensionistas.